150 anos de Maria Montessori
Há 150 anos nascia a educadora italiana Maria Montessori (1870-1952), cuja obra e método são ainda hoje muito utilizados em diversas escolas no Brasil e no mundo.
Montessori estava tão à frente do seu tempo, que foi uma das primeiras mulheres a se formar em medicina na Itália e acabou descobrindo sua paixão pela educação ao trabalhar com crianças com necessidades especiais e lutar por condições de vida e aprendizado mais dignos para elas.
Mais tarde, liderou as atividades do Lar das Crianças, que logo se tornaria uma referência em educação. Lá, ela também trabalhou com crianças excluídas, desta vez filhos de operários, e teve a oportunidade de proporcionar a elas aprendizado e de desenvolver seu método.
E foi pra celebrar essa mulher incrível que eu tive a ideia de entrevistar outra mulher incrível, a também educadora Alice Ibelli, que se apaixonou pela pedagogia Montessori quando estava mergulhada na maternidade e suas descobertas.
Alice é mãe do Francisco, da Elis e do Raul, que têm, respectivamente 9, 6 e 3 anos. A paixão dela por Maria Montessori e sua metodologia é tão grande que até o gato da família se chama Mário Montessori!
Espero que vocês gostem tanto desta entrevista quanto eu!
Alice, queria que você começasse falando um pouco da sua formação, o que você tem estudado...
Sou formada em Pedagogia e estou terminando uma pós-graduação em educação Montessori de 0 a 6 anos, sou membro fundadora do grupo no Facebook “Montessori para famílias”, que conta hoje com mais de 95 mil membros, e já atuei em escolas Montessori como guia em salas de 0 a 3 anos. Também dou cursos para escolas tradicionais que desejam aproveitar o método em seu aprendizado, além de oferecer consultoria para famílias de como aplicar o método em casa com eficiência.
Como foi que você se aproximou da pedagogia montessoriana?
Eu me formei em direito muito tempo atrás. Como não me encontrei na profissão decidi fazer letras. No meio disso eu tive um filho e com ele veio a vontade de estudar sobre desenvolvimento infantil. Comecei com a disciplina positiva e a comunicação não violenta, que me levaram para Montessori. Estudei o método não profissionalmente e o aplicava em casa com meus filhos, até que decidi fazer uma faculdade de pedagogia e me especializar em Montessori para poder atuar em escolas.
Maria Montessori nasceu em 31 de agosto de 1870 e publicou seu método pedagógico pela primeira vez em 1909, em O método da pedagogia científica aplicado à educação infantil no Lar das Crianças. O que ela trouxe de novo?
Ela trouxe uma olhar novo sobre a criança. Não tem como falar em Montessori sem exaltar essa mulher, que foi fantástica e à frente de seu tempo. Ela observou e estudou crianças até desenvolver um método que as ajudasse a se desenvolver sem que precisassem depender de um adulto. Antes, se via a criança como um miniadulto, um ser incompleto e que precisaria aprender um monte de coisas até tornar-se completo (um adulto). Maria Montessori mostrou que a criança já é um ser humano completo, ela só precisa das ferramentas certas e do ambiente adequado para se desenvolver em toda a sua capacidade.
Você acha que a pedagogia montessoriana é facilmente adaptável aos dias de hoje?
Eu a acho crucial nos dias de hoje, principalmente no contexto de mundo em que estamos vivendo. Entenda: Maria Montessori passou por duas guerras mundiais, ela viu no que o mundo pode se transformar quando não há respeito pelo próximo e ela baseou toda a sua pedagogia em uma educação para a paz. Para ela, a paz começava no respeito pela criança, a construção de um ambiente adequado ao seu desenvolvimento e a compreensão de suas necessidades de vida.
A gente sempre ouve falar sobre o quarto montessoriano. Fala pra gente o que é isso e de que formas é possível agregar a pedagogia montessoriana à vivência no lar.
O que precisamos entender é que não se é possível aplicar a pedagogia Montessori em casa se você não for um educador Montessori. O que os pais podem fazer é aplicar a filosofia Montessori. Ela parte do pressuposto de que a criança deve ter liberdade e autonomia para aprender. Mas como isso é possível? Com um ambiente preparado especialmente para ela. A criança deve ter acesso a todos os cômodos e tarefas da casa, deve ter um adulto disposto a esperar seu tempo de aprendizado e, sobretudo, dever ter a liberdade de tentar e tentar quantas vezes forem necessárias para o seu desenvolvimento. Em Montessori temos três regras essenciais, eu costumo falar que são as regras que não têm negociação. São elas: 1 - Não fazer mal a si próprio; 2 - Não fazer mal a nenhum outro ser vivo; 3 - Não fazer mal ao ambiente. Tirando essas três regras, tudo pode ser conversado e negociado. Exemplo: meu filho não quer tomar banho. Não tomar banho faz mal a ele próprio, certo? Então não tem discussão, é uma obrigação que ele deve cumprir. Sempre lembrando que, apesar dessas regras indiscutíveis, Montessori é um método que preza pela disciplina positiva e a comunicação não violenta. Devemos sempre lembrar que há um meio-termo entre a permissividade e a autoridade, é aí que se encontra o respeito pela criança.
Como a pedagogia montessoriana pode ajudar crianças com dificuldade de aprendizagem e com necessidades especiais?
Maria Montessori iniciou o seu método em um manicômio, com crianças atípicas e rejeitadas pela sociedade. Ela comprovou que, se existir um ambiente adequado, um adulto preparado e materiais convenientes, a criança consegue se desenvolver de acordo com o esperado. Eu, como educadora, aconselharia a começar pelo ambiente: organizar para que ela possa ter autonomia e liberdade para se desenvolver, lógico, de acordo com suas especificidades. Sempre lembrando que cada criança é única.
Você tem alguma crítica à pedagogia montessoriana?
A pedagogia Montessori tradicional é elitista. Seus materiais têm um custo muito alto e seus educadores precisam de uma formação que ainda é muito cara no Brasil. Além disso, acredito que temos de entender que, apesar de revolucionária e uma mulher à frente do seu tempo, Maria Montessori desenvolveu sua pedagogia no século passado, não devemos levar ao pé da letra tudo o que está escrito em seu livros, sempre lembrando de adaptar para a realidade em que vivemos.